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Dra. Marcella Mello Reumatologista
Marcella Mello - Doctoralia.com.br

Síndrome de Churg-Strauss: causas, sintomas e tratamento

A granulomatose eosinofílica com poliangeíte (GEPA), anteriormente conhecida como Síndrome de Churg-Strauss, é uma doença rara que afeta principalmente os vasos sanguíneos de pequeno calibre.

Essa condição é classificada como uma forma de vasculite associada ao ANCA, caracterizada por inflamação dos vasos, o que pode levar a danos em diversos órgãos do corpo, incluindo pulmões, coração, rins e o sistema nervoso periférico.

O que é a Síndrome de Churg-Strauss?

A granulomatose eosinofílica com poliangeíte (antiga Síndrome de Churg-Strauss) é uma doença autoimune na qual o próprio sistema imunológico ataca os vasos sanguíneos e tecidos.

A GEPA é caracterizada pela presença de eosinofilia periférica, ou seja, um aumento significativo de eosinófilos, um tipo de glóbulo branco envolvido em reações alérgicas e resposta imunológica.

Além disso, essa condição pode levar à formação de granulomas (aglomerados de células inflamatórias) nos tecidos afetados, contribuindo para os danos locais.

Causas e fatores de risco

A causa exata da granulomatose eosinofílica é desconhecida. No entanto, acredita-se que fatores genéticos, ambientais e imunológicos desempenhem um papel importante.

Pessoas com histórico de asma grave ou outras doenças alérgicas têm maior risco de desenvolver a condição. Alguns medicamentos, infecções ou exposições ambientais também podem atuar como gatilhos para o início da doença.

Fases da doença

A granulomatose eosinofílica evolui geralmente em três fases distintas, embora nem todos os pacientes passem por todas elas ou na mesma sequência:

1. Fase prodrômica: nessa fase inicial, predominam sintomas alérgicos, como rinite alérgica e asma grave. Esta é frequentemente a primeira manifestação da doença e pode durar anos antes que outros sintomas apareçam.

2. Fase eosinofílica: há um aumento significativo dos eosinófilos no sangue (eosinofilia periférica) e nos tecidos, causando inflamação em órgãos como pulmões e trato gastrointestinal. Nesta fase, os pacientes podem apresentar sintomas como dor abdominal, febre e perda de peso.

3. Fase vasculítica: a fase mais grave da doença, caracterizada pela inflamação dos vasos sanguíneos de pequeno e médio calibre. Essa inflamação pode levar a complicações como vasculite coronária e consequente insuficiência cardíaca, danos aos rins, e envolvimento do sistema nervoso periférico, resultando em fraqueza ou dor.

Sinais e sintomas comuns

Os sintomas da granulomatose eosinofílica podem variar amplamente entre os pacientes, dependendo dos órgãos afetados. Alguns dos sinais e sintomas mais comuns incluem:

  • Asma grave: presente em quase todos os casos e frequentemente o primeiro sintoma a surgir.
  • Rinite alérgica: inflamação da mucosa nasal, com espirros, congestão e coriza.
  • Eosinofilia periférica: detectada em exames de sangue.
  • Manifestações cardíacas: como pericardite (inflamação do revestimento ao redor do coração) e insuficiência cardíaca.
  • Complicações renais: como insuficiência renal devido ao comprometimento dos vasos sanguíneos nos rins.
  • Envolvimento do sistema nervoso periférico: resultando em neuropatia periférica, que pode causar fraqueza muscular, formigamento ou dor.
  • Outros sintomas: febre, fadiga, perda de peso, dores articulares e erupções cutâneas.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da granulomatose eosinofílica pode ser desafiador, especialmente nas fases iniciais, devido à sobreposição de sintomas com outras condições alérgicas ou autoimunes.

Uma combinação de histórico clínico, exames laboratoriais e testes de imagem é usada para confirmar a doença. Entre os exames comuns estão:

  • Exames de sangue: para detectar eosinofilia periférica e a presença de anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), que podem ser positivos. Esses anticorpos podem ser subdivididos em anti-MPO (mieloperoxidase) e anti-PR3 (proteinase 3). No contexto da granulomatose eosinofílica, os anticorpos anti-MPO são os mais frequentemente associados, embora nem todos os pacientes apresentem ANCA positivo. A presença de ANCA, especialmente do tipo anti-MPO, pode ajudar a distinguir entre diferentes formas de vasculite e orientar o tratamento.
  • Biópsias: de tecidos afetados para identificar granulomas e inflamação dos vasos.
  • Testes de imagem: como tomografia computadorizada, para avaliar danos em órgãos internos.

O tratamento varia de acordo com a gravidade e os órgãos envolvidos, mas geralmente inclui:

  • Corticosteroides: como a prednisona, que são a base do tratamento inicial para reduzir a inflamação.
  • Imunossupressores: como ciclofosfamida ou azatioprina, usados em casos mais graves para controlar a atividade da doença.
  • Medicamentos biológicos: como o mepolizumabe, que é usado para bloquear a ação dos eosinófilos em pacientes com asma grave associada.

Com o tratamento adequado, muitos pacientes apresentam boa resposta e podem alcançar a remissão da doença, embora recaídas sejam possíveis.

Impacto na qualidade de vida

A granulomatose eosinofílica pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Os sintomas crônicos, como asma grave e neuropatia periférica, podem limitar as atividades diárias e causar desconforto. Além disso, as complicações cardíacas, como insuficiência cardíaca e vasculite coronária, podem representar riscos graves à saúde.

O apoio multidisciplinar, incluindo cuidados de reumatologistas, pneumologistas e cardiologistas, é essencial para gerenciar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. A educação dos pacientes sobre sua condição e adesão ao tratamento também desempenham um papel importante na prevenção de complicações a longo prazo.

É importante destacar que a granulomatose eosinofílica é uma doença tratável e que os avanços na medicina têm proporcionado melhores perspectivas para os pacientes, permitindo que muitos retomem suas atividades e vivam de forma plena, mesmo após o início da doença.

Se você suspeita de sintomas relacionados à Síndrome de Churg-Strauss, agende uma consulta para avaliação especializada!

Referências

Moreira, C. et al. Livro da SBR, 3ª Ed. Editora Manole, 2023

Hochberg MC. Rheumatology, 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2023.

Dra. Marcella Mello
Dra. Marcella Mello
Sou médica reumatologista, com residência médica pela Santa Casa de Belo Horizonte e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. Meu objetivo é trazer conteúdo relevante e preciso acerca da Reumatologia. Meu compromisso é com seu entendimento sobre o assunto de uma forma leve e clara. CRM: 71401-MG RQE Nº: 50241