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Dra. Marcella Mello Reumatologista
Marcella Mello - Doctoralia.com.br

Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide na gravidez

A Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide é uma condição autoimune que pode trazer riscos à gestação. Porém, com diagnóstico precoce e acompanhamento especializado, é possível reduzir as complicações. Saiba mais!

O que é SAF?

A Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAF) é uma condição autoimune que pode causar complicações na gravidez, como abortos e eclâmpsia, e eventos trombóticos, como tromboses venosas profundas e derrames.

Para mulheres em idade fértil, especialmente aquelas que desejam engravidar, compreender a SAF e seus impactos é essencial.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico de SAF requer a combinação de critérios clínicos e laboratoriais.

Os critérios clínicos incluem história de trombose ou complicações obstétricas, como perdas gestacionais repetidas, enquanto os laboratoriais envolvem a detecção persistente dos anticorpos antifosfolípides em exames de sangue realizados em pelo menos duas ocasiões com um intervalo de pelo menos 12 semanas.

Os principais anticorpos antifosfolípides conhecidos são: o anticoagulante lúpico, os anticorpos anticardiolipina IgM e IgG e os anticorpos anti-β2-glicoproteína I IgM e IgG.

Qual a relação entre SAF e gravidez?

A SAF desempenha um papel significativo na saúde reprodutiva, pois está associada a um maior risco de complicações na gestação.

Para mulheres com SAF, a gravidez representa um desafio devido ao risco aumentado de tromboses e complicações obstétricas, como:

  • perda fetal recorrente
  • restrição do crescimento intrauterino (RCIU)
  • pré-eclâmpsia grave
  • descolamento prematuro de placenta.

Essas complicações são decorrentes de alterações na circulação sanguínea na placenta, que comprometem o suprimento de oxigênio e nutrientes para o bebê.

Quais os principais impactos da SAF na gestação?

Os principais impactos da síndrome do anticorpo antifosfolípide na gravidez incluem:

  • Perda gestacional recorrente: mulheres com SAF têm um risco elevado de abortos espontâneos, especialmente no primeiro trimestre. Além disso, a condição também está associada a perdas no segundo e terceiro trimestres.
  • Pré-eclâmpsia e eclâmpsia: a SAF aumenta o risco de pré-eclâmpsia, que pode se manifestar com hipertensão arterial, proteína na urina e complicações graves para a mãe e o bebê.
  • Restrição do crescimento intrauterino (RCIU): problemas na circulação da placenta podem limitar o crescimento adequado do bebê, resultando em baixo peso ao nascer e em complicações neonatais.
  • Parto prematuro: as complicações da SAF podem levar a um parto prematuro espontâneo ou induzido, aumentando o risco de problemas respiratórios e outras condições de saúde para o recém-nascido.
  • Trombose materna: durante a gravidez, o risco de eventos trombóticos, como trombose venosa profunda ou embolia pulmonar, é significativamente maior em mulheres com SAF.

Como é feito o diagnóstico de SAF obstétrica?

O diagnóstico de SAF obstétrica segue critérios específicos que combinam dados clínicos e laboratoriais:

Critérios clínicos

  • Perda gestacional recorrente: dois ou mais abortos consecutivos antes da 10ª semana de gestação, com causas anatômicas e genéticas excluídas.
  • Morte fetal inexplicada após a 10ª semana de gestação em feto morfologicamente normal.
  • Parto prematuro antes da 34ª semana devido a condições graves, como pré-eclâmpsia, eclâmpsia ou insuficiência placentária severa.

Critérios laboratoriais

  • Presença de anticorpos antifosfolípides (anticardiolipina, anticoagulante lúpico e/ou anti-β2-glicoproteína I) detectados em pelo menos duas ocasiões, com intervalo mínimo de 12 semanas entre os testes.

Exclusão de outras causas

  • Antes de confirmar o diagnóstico, é fundamental excluir outras condições que possam causar sintomas semelhantes, como trombofilias hereditárias ou doenças autoimunes.

História obstétrica e exames

  • Avaliação detalhada do histórico gestacional da paciente.
  • Exames complementares, como ultrassonografia obstétrica, para avaliar a saúde do feto e a função placentária.

Esse diagnóstico deve ser conduzido por uma equipe multidisciplinar especializada, garantindo o tratamento precoce e a redução dos riscos associados à SAF durante a gestação.

Quais os tratamentos e cuidados para gestantes com SAF?

O tratamento da SAF durante a gravidez é multifacetado e visa prevenir tanto complicações maternas quanto fetais. As abordagens incluem:

  • Anticoagulação: a terapia com heparina de baixo peso molecular é o padrão de tratamento para mulheres grávidas com SAF. A heparina ajuda a prevenir tromboses e melhora a circulação placentária.
  • Aspirina em baixa dose: frequentemente prescrita em conjunto com a heparina, a aspirina pode reduzir o risco de complicações, como pré-eclâmpsia.
  • Monitoramento próximo: gestantes com SAF requerem um acompanhamento rigoroso com exames regulares de ultrassom para monitorar o crescimento do bebê, avaliações da função placentária e controle da saúde materna.
  • Suporte multidisciplinar: o cuidado de gestantes com SAF envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo obstetras especializados em gravidez de alto risco, hematologistas e reumatologistas.
  • Controle de outras condições: se a paciente tiver outras doenças autoimunes, como lúpus, estas também devem ser controladas para reduzir os riscos.

Prognóstico: é possível ter uma gravidez saudável com SAF?

Com o tratamento e monitoramento adequados, muitas mulheres com SAF podem ter uma gravidez bem-sucedida e saudável. Estudos mostram que, com o uso de heparina e aspirina, o risco de complicações pode ser significativamente reduzido.

No entanto, é importante que essas pacientes sejam acompanhadas por uma equipe experiente em gestação de alto risco e que sigam rigorosamente as recomendações médicas.

A preparação pré-concepcional também é essencial. Mulheres com SAF devem discutir seus planos de gravidez com seus médicos para garantir que todas as medidas preventivas sejam tomadas antes da concepção.

Embora a SAF represente desafios à gravidez, avanços no diagnóstico e no tratamento proporcionaram melhores perspectivas para as mulheres afetadas. Com o cuidado certo, a maioria das gestantes com SAF pode realizar o sonho de ter um bebê saudável.

Referências

Moreira, C. et al. Livro da SBR, 3ª Ed. Editora Manole, 2023

Hochberg MC. Rheumatology, 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2023.

Dra. Marcella Mello
Dra. Marcella Mello
Sou médica reumatologista, com residência médica pela Santa Casa de Belo Horizonte e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. Meu objetivo é trazer conteúdo relevante e preciso acerca da Reumatologia. Meu compromisso é com seu entendimento sobre o assunto de uma forma leve e clara. CRM: 71401-MG RQE Nº: 50241