Sou médica reumatologista, com residência médica pela Santa Casa de Belo Horizonte e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. Meu objetivo é trazer conteúdo relevante e preciso a cerca da Reumatologia. Meu compromisso é com seu entendimento sobre o assunto de uma forma leve e clara.
CRM: 71401-MG RQE Nº: 50241
A espondilite anquilosante (EA) é uma artrite inflamatória do esqueleto axial, sendo considerada a principal representante das espondiloartropatias (EpA). Afeta mais homens abaixo dos 40 anos de idade, e acomete, sobretudo, a população caucasiana, o que está intimamente relacionado à maior prevalência de HLA-B27 nesse grupo.
Os eventos que estão por trás do desenvolvimento EA não são bem compreendidos. As evidências disponíveis indicam que fatores genéticos e ambientais convergem para desencadear eventos inflamatórios em múltiplas vias imunológicas.
Dor lombar inflamatória é o sintoma mais frequente (Quadro 1) e, no início, pode ser de forte intensidade, localizada profundamente na região glútea (dor alternante em nádegas), em geral unilateral e intermitente, mas que pode se tornar bilateral e persistente. Rigidez matinal de até 3 horas também é muito observada.
Quadro 1: Critérios de dor lombar inflamatória
Positivo se presentes 4/5
Para aplicação em pacientes com lombalgia crônica (>3 meses) |
Idade de início < 40 anos |
Início insidioso |
Melhora com exercício |
Sem melhora com repouso |
Dor à noite (com melhora ao se levantar) |
Fig.1: Esta série de fotografias mostra as mudanças posturais progressivas da espondilite anquilosante. O paciente teve substituição total do quadril realizada em 1972.
Fonte: Uptodate 2021
Artrite periférica é geralmente oligoarticular (poucas articulações, geralmente < 4), assimétrica e com predomínio em membros inferiores. Também pode ocorrer entesite, sendo a região da fáscia plantar e do tendão do calcâneo os mais comuns.
Fig. 2: Entesite de calcanhar
Fonte: Uptodate 2021
Acometimento ocular na forma de uveíte anterior unilateral e recidivante é relativamente comum. Pode haver ainda acometimento cardíaco, renal, pulmonar, mas em menor incidência.
O diagnóstico deve ser realizado levando-se em consideração aspectos epidemiológicos, como idade e sexo, manifestações típicas articulares e extra-articulares, história familiar e exames complementares.
Os achados laboratoriais são inespecíficos e consistem em alterações comuns às doenças inflamatórias crônicas. Pode haver aumento de provas inflamatórias (VHS e PCR). A pesquisa do HLA-B27 não deve ser utilizada como processo de triagem, pois sua positividade não garante o diagnóstico e sua ausência também não exclui.
Os métodos de imagem são muito importantes para avaliação diagnóstica do paciente com suspeita de espondilite anquilosante, sendo a radiografia de sacroilíacas o primeiro exame a ser solicitado diante da suspeita.
A ressonância magnética deve ser realizada quando o RX é normal e existe uma forte suspeita clínica para EA. A alteração que permite classificar o paciente com EpA é o edema ósseo subcondral, embora outras alterações como erosões, esclerose subcondral e lesões gordurosas possam estar presentes.
A espondilite anquilosante é uma doença autoimune crônica e não tem cura. Seu tratamento envolve o uso de uma variedade de intervenções, incluindo muitos dos agentes usados para o tratamento de pacientes com outras formas de artrite inflamatória, principalmente artrite psoriásica (AP) e artrite reumatóide (AR).
O objetivo primário do tratamento é controlar a inflamação e prevenir desconforto, lesão articular e incapacidade, buscando sempre a remissão ou a menor atividade da doença.
Como medidas não farmacológicas, é importante a educação do paciente sobre sua condição clínica, o controle dos fatores de risco cardiovascular, como obesidade e síndrome metabólica, além do estímulo à atividade física e à fisioterapia.
Em relação ao tratamento medicamentoso, os antiinflamatórios não esteroidais (AINE) são a primeira linha no tratamento das manifestações axiais (coluna vertebral e sacroilíacas). Cerca de 70-80% dos pacientes apresentam melhora dos sintomas com seu uso.
Drogas como sulfassalazina e metotrexato são utilizadas para controle de manifestações periféricas.
Medicamentos imunobiológicos, como os inibidores do fator de necrose tumoral (anti-TNF) e os inibidores da interleucina 17 são prescritos diante da falha dos medicamentos anteriormente citados.
É importante que o paciente mantenha acompanhamento periódico e regular com o reumatologista para constante avaliação do quadro inflamatório e da resposta ao tratamento.
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CID: M45
Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. José Tupinambá Sousa Vasconcelos. 2019
Reumatologia: Diagnóstico e Tratamento. Marco Antonio P. Carvalho. 5ª edição 2019
Reumatologia. Marc C. Hochberg. 6ª edição