A artrite idiopática juvenil (AIJ) denomina um grupo de doenças distintas que ocorre em crianças com menos de 16 anos e se manifesta, principalmente, por artrite persistente durante seis ou mais semanas, descartadas outras doenças.
Nos países desenvolvidos, a AIJ é a doença reumática mais comum na infância e uma das doenças crônicas mais frequentes nessa faixa etária. Há uma ligeira predominância no sexo feminino.
Causas
O diagnóstico da AIJ é feito através de uma história clínica e exame físico compatíveis, associado a alterações laboratoriais e nos exames de imagem.
Pode haver anemia, leucocitose com neutrofilia, aumento de provas inflamatórias, além da positividade de autoanticorpos. A radiografia simples, o ultrassom e a ressonância magnética são os métodos de imagem mais amplamente utilizados.
Sintomas/manifestações clínicas
As artrites crônicas da infância compreendem uma área de estudo e investigação complexa. A artrite idiopática juvenil é classificada em sete categorias, definidas pelo modo de início e por sua evolução nos seis primeiros meses da doença.
1. AIJ Sistêmica
Também chamada de doença de Still. As crianças apresentam-se sistematicamente doentes, com fadiga, anemia, febre, emagrecimento, mialgia. A febre é vespertina, intermitente, geralmente acompanhada de rash cutâneo maculopapular ou macular, rosa salmão, evanescente e raramente pruriginoso.
Pode haver ainda hepatomegalia, esplenomegalia, linfadenopatia generalizada, pericardite e dor abdominal. Há acentuado aumento das provas inflamatórias (VHS, PCR, ferritina) e leucocitose com neutrofilia.
Cerca de 40% recuperam-se totalmente, mas uma parcela pode evoluir com doença poliarticular. A complicação mais temida é a síndrome de ativação macrofágica (SAM), que pode ser fatal.
2. AIJ Poliarticular
Definido pelo comprometimento de cinco ou mais articulações nos primeiros seis meses da doença. É subdividida em:
AIJ poliarticular com fator reumatoide positivo
Acomete principalmente meninas entre 9 e 11 anos. Acomete punhos, metacarpofalangianas, interfalangianas, joelhos e cotovelos. Pode haver também positividade dos autoanticorpos anti-CCP e FAN. Geralmente há menor taxa de remissão e maior frequência de limitação funcional.
AIJ poliarticular com fator reumatoide negativo
Poliartrite com início insidioso, aditivo, acometendo pequenas articulações de mãos e pés, joelhos, punhos e tornozelos, com rigidez matinal. Uveíte crônica assintomática é a manifestação extra-articular mais comum. Doença crônica com tendência de recidiva na vida adulta.
3. AIJ Oligoarticular
Definida pelo comprometimento em menos de 4 articulações nos primeiros seis meses de doença. Apresenta-se como artrite assimétrica, mais em membros inferiores, com frequente acometimento de joelhos e tornozelos. As crianças não se apresentam sistemicamente doentes. Também pode ocorrer uveíte anterior crônica oligossintomática, associada a FAN positivo.
4. Artrite relacionada à Entesite
Acomete principalmente crianças do sexo masculino. Caracteriza-se pela presença de inflamação das enteses, especialmente na inserção do tendão de Aquiles.
Em alguns casos progride para o acometimento das articulações sacroilíacas e articulações da coluna vertebral. O HLA B27 está presente em 90% das crianças.
5. Artrite Psoriásica Juvenil
Configura-se pela presença de artrite e psoríase ou artrite associada a ≥ 2 dos demais: psoríase em parente de 1º grau, dactilite ou alterações ungueais (pitting ou onicólise). Pode acometer pequenas ou grandes articulações.
6. Artrite Indiferenciada
Não representa uma classificação em separado, mas inclui aquelas crianças que não preencheram critérios para uma das categorias anteriores, ou que preenchem critérios para mais de uma categoria.
Diagnóstico
O diagnóstico da artrite idiopática juvenil é feito por meio de uma história clínica e exame físico compatíveis, associado a alterações laboratoriais e nos exames de imagem.
Pode haver anemia, leucocitose com neutrofilia, aumento de provas inflamatórias, além da positividade de autoanticorpos. A radiografia simples, o ultrassom e a ressonância magnética são os métodos de imagem mais amplamente utilizados.
Tratamento
A artrite idiopática juvenil é uma doença crônica e que não apresenta cura. O objetivo do tratamento baseia-se na remissão total da doença, prevenção de sequelas e melhora da qualidade de vida.
Para isso, é importante o acompanhamento regular com o reumatologista, uso de medicamentos, terapia física (principalmente fisioterapia e terapia ocupacional) e ocupacional e também o suporte psicológico da criança.
Em relação à terapia medicamentosa, o esquema de tratamento deve ser individualizado, considerando o quadro clínico de cada paciente. Pode-se usar anti-inflamatórios não-esteroidais, corticosteroides, imunossupressores e imunobiológicos.
Além da artrite idiopática juvenil, outra condição autoimune que pode afetar crianças é a dermatomiosite juvenil, uma doença inflamatória crônica que acomete principalmente a pele e os músculos, causando fraqueza muscular e lesões cutâneas. Para saber mais sobre os sintomas, diagnóstico e tratamentos dessa doença, confira nosso artigo sobre dermatomiosite.
Referências bibliográficas
Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. José Tupinambá Sousa Vasconcelos. 2019
Reumatologia: Diagnóstico e Tratamento. Marco Antonio P. Carvalho. 5ª edição 2019
Reumatologia. Marc C. Hochberg. 6ª edição
UpToDate 2021
CID: M 08.0; M 08.1; M 08.2; M 08.3