Portal da Reumatologia

Logo Dra Marcella Reumatologista
Marcella Mello - Doctoralia.com.br

Doença de Behçet

A síndrome de Behçet é uma doença multissistêmica, caracterizada clinicamente pela combinação de ulcerações aftosas orais e genitais, associada a fenômenos vasculíticos, com acometimento de vasos de calibres variados, em territórios arteriais e venosos.

https://www.youtube.com/watch?v=kI4FwrJd-xo

Causas

A causa da doença é desconhecida. Acredita-se que a ativação aberrante da autoimunidade, provocada por um gatilho ambiental (como infecção por vírus e/ou bactérias), em um indivíduo geneticamente predisposto, seja o mecanismo de início da doença.

O HLA-B51 é o fator de suscetibilidade genético mais forte, sendo responsável por cerca de 20% do risco de desenvolver a síndrome.

Sintomas/manifestações clínicas

O início dos sintomas pode ocorrer desde o final da puberdade até os 40 anos. Tem distribuição igual entre os gêneros, mas os homens costumam apresentar evolução pior, com manifestações sistêmicas mais graves. 

  • Cutaneomucosas: Úlceras orais e genitais recidivantes, com surtos que duram de 2 a 6 semanas, podendo atingir toda a orofaringe. As aftas orais geralmente tem mais de 0,5 cm, bordas avermelhadas e fundo escavado. As lesões genitais são semelhantes, podendo acometer mais comumente a bolsa escrotal nos homens e pequenos lábios e parede vaginal na mulher.
Úlcera oral em língua (Fonte: Uptodate 2021)

As lesões cutâneas mais frequentes são o eritema nodoso e a pseudofoliculite.

  • Oculares: Ocorre em 50-70% dos pacientes e geralmente aparece nos primeiros anos da doença. A uveíte bilateral (panuveíte, anterior ou posterior) é o acometimento mais comum. Pode haver vasculite retiniana.
  • Articulares: Os sintomas articulares são encontrados em 40-80% dos pacientes. O quadro é geralmente mono ou oligoarticular, assimétrico, com predominância em tornozelos e joelhos. Mialgia também é frequente.
  • Neurológicas: As manifestações são variadas, podendo se apresentar como: meningoencefalite asséptica, vasculite, acidente vascular encefálico (AVE), trombose venosa central e aneurismas. O acometimento neurológico costuma ser precoce, podendo abrir a síndrome em até 20% dos casos.
  • Vasculares: Trombose venosa de grandes vasos como veias supra-hepáticas, cava e vasos profundos dos membros superiores e inferiores. Também pode haver acometimento arterial: carótidas, pulmonar, aorta, ilíaca, femoral, com formação de aneurismas.

Diagnóstico

O diagnóstico é exclusivamente clínico, ou seja, não existem exames definidores para a doença. 

O instrumento atualmente utilizado para classificação da síndrome, em estudos científicos, é o Critério Internacional de Classificação da Síndrome de Behçet:

Sinal/Sintoma Pontos
Lesões oculares 2
Lesões genitais 2
Aftas orais 2
Lesões cutâneas 1
Manifestações neurológicas 1
Manifestações vasculares 1
Teste de patergia (opcional) 1
O diagnóstico é dado se ≥ 4 pontos
Critério Internacional de Classificação da Síndrome de Behçet

Diagnósticos diferenciais importantes são: estomatite aftosa recorrente, outras vasculites, síndrome do anticorpo antifosfolípide, doença de Chron.

O que é o teste de patergia?

Patergia refere-se a uma resposta eritematosa papular ou pustulosa à lesão cutânea local. É definida como uma lesão semelhante a uma pústula ou pápula que aparece 48 horas após a picada na pele por uma agulha de calibre 20.

Essa manifestação é mais comum em áreas endêmicas, como nos países asiáticos da rota da seda, quando a positividade pode chegar a 50-75%. A presença da patergia não é essencial para o diagnóstico de doença de Behçet.

Tratamento

A doença de Behçet é uma doença autoimune crônica, ou seja, não apresenta cura. 

A abordagem terapêutica depende da apresentação clínica e dos órgãos envolvidos. Os esquemas de tratamento mais utilizados incluem colchicina, azatioprina, ciclosporina, ciclofosfamida e terapia imunobiológica com inibidores do fator de necrose tumoral (anti-TNF).

O curso clínico da doença apresenta períodos de exacerbação e de remissão, com gradual redução da atividade clínica, em torno de 10 anos após o início dos sintomas e após os 40 anos. 

Para mais informações, entre em contato!

CID: 35.2

Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. José Tupinambá Sousa Vasconcelos. 2019

Reumatologia: Diagnóstico e Tratamento. Marco Antonio P. Carvalho. 5ª edição 2019

Reumatologia. Marc C. Hochberg. 6ª edição