A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória sistêmica, autoimune, crônica e progressiva.
Caracteriza-se primariamente pelo comprometimento da membrana sinovial (preferencialmente das articulações periféricas), podendo levar à destruição óssea e cartilaginosa.
Eventualmente, pode haver comprometimento de outros órgãos e sistemas, como pele, pulmões e olhos. Acomete mais mulheres entre 30 e 50 anos, mas pode aparecer em todas as faixas etárias.
Causas
A AR é uma das doenças reumáticas mais comuns no mundo. A sua etiopatogênese é heterogênea, mas três fatores são fundamentais para desenvolvimento da doença; (1) quebra da tolerância imunológica; (2) fatores ambientais associados, principalmente o tabagismo e a interação com o microbioma; e (3) predisposição genética. De maneira resumida, ocorre ativação aberrante da resposta imune inata e adaptativa, o que resulta em hiperplasia sinovial e destruição óssea.
Fatores de risco
Sexo feminino, herança genética, tabagismo, agentes tóxicos como fumaça e sílica, doença periodontal, alterações na microbiota intestinal, infecções virais como Parvovírus, Epstein Barr e Citomegalovírus.
Sintomas/manifestações clínicas
A doença instala-se de maneira insidiosa e progressiva na maioria dos casos. Entretanto, até 15-30% podem ter início agudo ou subagudo.
Ocorre poliartrite de pequenas e grandes articulações (dor, edema, calor, limitação de movimentos), de caráter simétrico, aditivo, com piora dos sintomas no início da manhã e ao final do dia (dor inflamatória) e com rigidez matinal associada, superior a 60 minutos.
O acometimento de punhos, metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais é comum. Ombros, quadris, coluna cervical, joelhos, pés e tornozelos também podem ser afetados. Com a cronificação do processo inflamatório, podem surgir deformidades típicas, como: desvio ulnar das metacarpofalangeanas e desvio radial dos punhos, dedos em pescoço de cisne ou dedo em casa de botão e mão reumatoide.
Em relação às manifestações extra articulares, é sabido que são mais frequentes nos pacientes com doença grave e poliarticular, com fator reumatoide positivo e com nódulos reumatoides.
Essas manifestações podem ser:
- cutâneas (nódulos reumatoides, vasculite reumatoide);
- oculares (ceratoconjuntivite seca, episclerite e esclerite);
- respiratórias (pneumopatias intersticiais com fibrose pulmonar;
- nódulos pulmonares ou derrames pleurais);
- cardíacas (derrame pericárdico);
- renais (glomerulonefrites, amiloidose);
- hematológicas (citopenias);
- neurológicas (mielopatia cervical, neuropatias compressivas periféricas);
- osteometabólicas (osteoporose).
Artrite idiopática juvenil e doença de Still do adulto serão abordadas em um tópico a parte.
Diagnóstico
Quanto mais precoce for o diagnóstico e o início do tratamento, melhor será o curso da doença. Uma avaliação cuidadosa do reumatologista, associada ao quadro clínico, laboratorial e radiográfico compatíveis são suficientes para definição.
Nos exames laboratoriais, pode haver anemia, leucocitose, trombocitose, elevação de VHS e PCR. Os autoanticorpos mais encontrados na AR são o FATOR REUMATOIDE e o ANTI-CCP. Seus altos títulos estão relacionados a pior prognóstico e ao desenvolvimento de manifestações extra articulares. Entretanto, não é necessária a positividade dos mesmos para o que diagnóstico seja feito: 20 a 30% dos pacientes podem ser portadores de artrite reumatoide soronegativa.
Na radiografia simples, é comum o achado de edema de partes moles, redução do espaço articular, erosões ósseas e osteopenia periarticular. As manifestações geralmente são simétricas. Ressonância magnética é o exame de imagem mais sensível, podendo detectar de maneira mais precoce as lesões ósseas e cartilaginosas, bem como o edema ósseo inicial.
Tem cura?
A artrite reumatoide é uma doença autoimune crônica, ou seja, não apresenta cura até o momento. Entretanto, com acompanhamento regular com reumatologista e o uso correto das medicações, é possível que o paciente alcance, em muitas das vezes, a remissão clínica da doença.
Tratamento
O tratamento da AR deve incluir educação dos pacientes e familiares sobre a doença, bem como o uso de medicações específicas e terapias físicas, como fisioterapia e terapia ocupacional.
O tratamento deve ser ajustado sempre que necessário, em reavaliações clínicas frequentes, com intervalos de 30 a 90 dias. A meta a ser alcançada é a remissão ou pelo menos a baixa atividade da doença.
A escolha do esquema terapêutico deve levar em consideração as recomendações baseadas em evidências científicas, dados de custo-efetividade e decisão compartilhada com o paciente. Corticóides, drogas reumáticas modificadoras de doença (DMARDs) e medicamentos imunobiológicos constituem a base do tratamento.
CID: M05; M05.3; M05.8; M05.9
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Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. José Tupinambá Sousa Vasconcelos. 2019
Reumatologia: Diagnóstico e Tratamento. Marco Antonio P. Carvalho. 5ª edição 2019
Reumatologia. Marc C. Hochberg. 6ª edição
UpToDate 2021