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Dra. Marcella Mello Reumatologista
Marcella Mello - Doctoralia.com.br

Doença de Behçet

A síndrome de Behçet é uma doença multissistêmica, caracterizada clinicamente pela combinação de ulcerações aftosas orais e genitais, associada a fenômenos vasculíticos, com acometimento de vasos de calibres variados, em territórios arteriais e venosos.

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Causas

A causa da doença é desconhecida. Acredita-se que a ativação aberrante da autoimunidade, provocada por um gatilho ambiental (como infecção por vírus e/ou bactérias), em um indivíduo geneticamente predisposto, seja o mecanismo de início da doença.

O HLA-B51 é o fator de suscetibilidade genético mais forte, sendo responsável por cerca de 20% do risco de desenvolver a síndrome.

Sintomas/manifestações clínicas

O início dos sintomas pode ocorrer desde o final da puberdade até os 40 anos. Tem distribuição igual entre os gêneros, mas os homens costumam apresentar evolução pior, com manifestações sistêmicas mais graves. 

  • Cutaneomucosas: Úlceras orais e genitais recidivantes, com surtos que duram de 2 a 6 semanas, podendo atingir toda a orofaringe. As aftas orais geralmente tem mais de 0,5 cm, bordas avermelhadas e fundo escavado. As lesões genitais são semelhantes, podendo acometer mais comumente a bolsa escrotal nos homens e pequenos lábios e parede vaginal na mulher.
Úlcera oral em língua (Fonte: Uptodate 2021)

As lesões cutâneas mais frequentes são o eritema nodoso e a pseudofoliculite.

  • Oculares: Ocorre em 50-70% dos pacientes e geralmente aparece nos primeiros anos da doença. A uveíte bilateral (panuveíte, anterior ou posterior) é o acometimento mais comum. Pode haver vasculite retiniana.
  • Articulares: Os sintomas articulares são encontrados em 40-80% dos pacientes. O quadro é geralmente mono ou oligoarticular, assimétrico, com predominância em tornozelos e joelhos. Mialgia também é frequente.
  • Neurológicas: As manifestações são variadas, podendo se apresentar como: meningoencefalite asséptica, vasculite, acidente vascular encefálico (AVE), trombose venosa central e aneurismas. O acometimento neurológico costuma ser precoce, podendo abrir a síndrome em até 20% dos casos.
  • Vasculares: Trombose venosa de grandes vasos como veias supra-hepáticas, cava e vasos profundos dos membros superiores e inferiores. Também pode haver acometimento arterial: carótidas, pulmonar, aorta, ilíaca, femoral, com formação de aneurismas.

Diagnóstico

O diagnóstico é exclusivamente clínico, ou seja, não existem exames definidores para a doença. 

O instrumento atualmente utilizado para classificação da síndrome, em estudos científicos, é o Critério Internacional de Classificação da Síndrome de Behçet:

Sinal/Sintoma Pontos
Lesões oculares 2
Lesões genitais 2
Aftas orais 2
Lesões cutâneas 1
Manifestações neurológicas 1
Manifestações vasculares 1
Teste de patergia (opcional) 1
O diagnóstico é dado se ≥ 4 pontos
Critério Internacional de Classificação da Síndrome de Behçet

Diagnósticos diferenciais importantes são: estomatite aftosa recorrente, outras vasculites, síndrome do anticorpo antifosfolípide, doença de Chron.

O que é o teste de patergia?

Patergia refere-se a uma resposta eritematosa papular ou pustulosa à lesão cutânea local. É definida como uma lesão semelhante a uma pústula ou pápula que aparece 48 horas após a picada na pele por uma agulha de calibre 20.

Essa manifestação é mais comum em áreas endêmicas, como nos países asiáticos da rota da seda, quando a positividade pode chegar a 50-75%. A presença da patergia não é essencial para o diagnóstico de doença de Behçet.

Tratamento

A doença de Behçet é uma doença autoimune crônica, ou seja, não apresenta cura. 

A abordagem terapêutica depende da apresentação clínica e dos órgãos envolvidos. Os esquemas de tratamento mais utilizados incluem colchicina, azatioprina, ciclosporina, ciclofosfamida e terapia imunobiológica com inibidores do fator de necrose tumoral (anti-TNF).

O curso clínico da doença apresenta períodos de exacerbação e de remissão, com gradual redução da atividade clínica, em torno de 10 anos após o início dos sintomas e após os 40 anos. 

Para mais informações, entre em contato!

CID: 35.2

Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. José Tupinambá Sousa Vasconcelos. 2019

Reumatologia: Diagnóstico e Tratamento. Marco Antonio P. Carvalho. 5ª edição 2019

Reumatologia. Marc C. Hochberg. 6ª edição

Dra. Marcella Mello
Dra. Marcella Mello
Sou médica reumatologista, com residência médica pela Santa Casa de Belo Horizonte e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. Meu objetivo é trazer conteúdo relevante e preciso acerca da Reumatologia. Meu compromisso é com seu entendimento sobre o assunto de uma forma leve e clara. CRM: 71401-MG RQE Nº: 50241