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Dra. Marcella Mello Reumatologista
Marcella Mello - Doctoralia.com.br

Espondilite Anquilosante

A espondilite anquilosante (EA) é uma artrite inflamatória do esqueleto axial, sendo considerada a principal representante das espondiloartropatias (EpA). Afeta mais homens abaixo dos 40 anos, e acomete, sobretudo, a população caucasiana, o que está intimamente relacionado à maior prevalência de HLA-B27 nesse grupo.

Causas

Os eventos que estão por trás do desenvolvimento EA não são bem compreendidos. As evidências disponíveis indicam que fatores genéticos e ambientais convergem para desencadear eventos inflamatórios em múltiplas vias imunológicas.

  • HLA-B27: A presença do HLA-B27 é o fator genético mais importante nas EA, podendo ser observado em até 90% dos pacientes. No entanto, menos de 5% dos indivíduos com HLA-B27 positivo na população geral desenvolvem EpA.
  • Estresse mecânico: Estudos sugerem que o estresse mecânico sobre a êntese (local de inserção de ligamentos, bursas, tendões e cápsula articular ao osso) seja um possível iniciador de resposta inflamatória pouco propensa à resolução. 
  • Disbiose intestinal: Alterações na microbiota estariam relacionadas a processos inflamatórios crônicos e ativação imunológica em pacientes com espondiloartropatias. 

Sintomas/manifestações clínicas

Dor lombar inflamatória é o sintoma mais frequente (Quadro 1) e, no início, pode ser de forte intensidade, localizada profundamente na região glútea (dor alternante em nádegas), em geral, unilateral e intermitente, mas que pode se tornar bilateral e persistente. Rigidez matinal de até 3 horas também é muito observada.

Para aplicação em pacientes com lombalgia crônica (>3 meses)
Idade de início < 40 anos
Início insidioso
Melhora com exercício
Sem melhora com repouso
Dor à noite (com melhora ao se levantar)
Quadro 1: critérios de dor lombar inflamatória. Positivo se presentes 4/5.
Esta série de fotografias mostra as mudanças posturais progressivas da espondilite anquilosante. O paciente teve substituição total do quadril realizada em 1972. (Fonte: Uptodate 2021)

Artrite periférica é geralmente oligoarticular (poucas articulações, geralmente < 4), assimétrica e com predomínio em membros inferiores. Também pode ocorrer entesite, sendo a região da fáscia plantar e do tendão do calcâneo os mais comuns.

Entesite de calcanhar (Fonte: Uptodate 2021)

Acometimento ocular na forma de uveíte anterior unilateral e recidivante é relativamente comum. Pode haver ainda acometimento cardíaco, renal, pulmonar, mas em menor incidência.

Diagnóstico

O diagnóstico deve ser realizado considerando-se aspectos epidemiológicos, como idade e sexo, manifestações típicas articulares e extra-articulares, história familiar e exames complementares. 

Os achados laboratoriais são inespecíficos e consistem em alterações comuns às doenças inflamatórias crônicas. Pode haver aumento de provas inflamatórias (VHS e PCR). A pesquisa do HLA-B27 não deve ser utilizada como processo de triagem, pois sua positividade não garante o diagnóstico e sua ausência também não exclui.

Os métodos de imagem são muito importantes para avaliação diagnóstica do paciente com suspeita de espondilite anquilosante, sendo a radiografia de sacroilíacas o primeiro exame a ser solicitado diante da suspeita. 

A ressonância magnética deve ser realizada quando o RX é normal e existe uma forte suspeita clínica para EA. A alteração que permite classificar o paciente com EpA é o edema ósseo subcondral, embora outras alterações como erosões, esclerose subcondral e lesões gordurosas possam estar presentes. 

Tratamento

A espondilite anquilosante é uma doença autoimune crônica e não tem cura. Seu tratamento envolve o uso de uma variedade de intervenções, incluindo muitos dos agentes usados ​​para o tratamento de pacientes com outras formas de artrite inflamatória, principalmente artrite psoriásica (AP) e artrite reumatoide (AR).

O objetivo primário do tratamento é controlar a inflamação e prevenir desconforto, lesão articular e incapacidade, buscando sempre a remissão ou a menor atividade da doença. 

Como medidas não farmacológicas, é importante a educação do paciente sobre sua condição clínica, o controle dos fatores de risco cardiovascular, como obesidade e síndrome metabólica, além do estímulo à atividade física e à fisioterapia.

Em relação ao tratamento medicamentoso, os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) são a primeira linha no tratamento das manifestações axiais (coluna vertebral e sacroilíacas). Cerca de 70-80% dos pacientes apresentam melhora dos sintomas com seu uso. 

Drogas como sulfassalazina e metotrexato são utilizadas para controle de manifestações periféricas. 

Medicamentos imunobiológicos, como os inibidores do fator de necrose tumoral (anti-TNF) e os inibidores da interleucina 17 são prescritos diante da falha dos medicamentos anteriormente citados.

É importante que o paciente mantenha acompanhamento periódico e regular com o reumatologista para constante avaliação do quadro inflamatório e da resposta ao tratamento. 

Para maiores detalhes, entre em contato conosco ou agende sua consulta. 

CID: M45

Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. José Tupinambá Sousa Vasconcelos. 2019

Reumatologia: Diagnóstico e Tratamento. Marco Antonio P. Carvalho. 5ª edição 2019

Reumatologia. Marc C. Hochberg. 6ª edição

Dra. Marcella Mello
Dra. Marcella Mello
Sou médica reumatologista, com residência médica pela Santa Casa de Belo Horizonte e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. Meu objetivo é trazer conteúdo relevante e preciso acerca da Reumatologia. Meu compromisso é com seu entendimento sobre o assunto de uma forma leve e clara. CRM: 71401-MG RQE Nº: 50241