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Dra. Marcella Mello Reumatologista
Marcella Mello - Doctoralia.com.br

Poliangeíte microscópica: causas, sintomas e tratamento

A Poliangeíte Microscópica (PAM) é uma doença rara, autoimune e potencialmente grave que afeta pequenos vasos sanguíneos em várias partes do corpo.

Classificada no grupo das vasculites associadas ao ANCA, seu código na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) é M31.7.

O principal mecanismo da PAM é a inflamação vascular, que pode levar ao dano tecidual em órgãos vitais, como os rins e os pulmões.

O que causa a Poliangeíte Microscópica?

A causa exata da PAM ainda não é completamente compreendida. No entanto, acredita-se que a doença seja desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

O sistema imunológico de pessoas com PAM ataca erroneamente os vasos sanguíneos do próprio corpo, causando inflamação. Possíveis fatores desencadeantes incluem:

  • Predisposição genética: algumas variações genéticas podem aumentar o risco de desenvolver a PAM.
  • Infecções: algumas infecções virais ou bacterianas podem desencadear uma resposta imunológica anormal.
  • Exposição ambiental: substâncias químicas ou medicamentos podem agir como gatilhos para a doença em indivíduos suscetíveis.

Quais são os sintomas?

A Poliangeíte Microscópica pode afetar qualquer órgão do corpo, mas os rins e os pulmões são os mais comumente envolvidos. Os sintomas variam dependendo dos órgãos acometidos, mas podem incluir:

  • Cansaço extremo
  • Febre
  • Perda de peso involuntária
  • Dor muscular e articular
  • Tosse com sangue (hemoptise), indicando possível hemorragia nos pulmões
  • Falta de ar (inflamação dos pulmões)
  • Inchaço nos membros devido a problemas renais
  • Urina escura ou com sangue, sugerindo glomerulonefrite
  • Manchas roxas na pele ou outros sinais de vasculite cutânea

A PAM pode afetar indivíduos de qualquer idade, mas é mais comum em adultos de meia-idade e idosos, geralmente entre os 50 e 70 anos. Não há preferência por sexo, embora ligeiramente mais casos sejam relatados em homens.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da PAM pode ser desafiador, pois seus sintomas são semelhantes aos de outras condições. Uma avaliação detalhada é necessária, incluindo:

  • Histórico clínico e exame físico: identificar sinais de vasculite e comprometimento de órgãos.
  • Exames laboratoriais:
    • Os anticorpos contra citoplasma de neutrófilos (ANCA) são marcadores importantes. Muitos pacientes com PAM apresentam ANCA positivo, mais comumente o subtipo p-ANCA. O anti MPO também pode ser encontrado.
    • Outros exames podem mostrar anormalidades nos rins, como altos níveis de creatinina e presença de proteínas ou sangue na urina.
  • Exames de imagem: radiografias ou tomografias computadorizadas podem revelar lesões pulmonares.
  • Biópsia: o exame de um fragmento de tecido, como o rim ou a pele, pode confirmar a presença de vasculite e diferenciar a PAM de outras doenças.

O diagnóstico precoce é essencial para iniciar o tratamento rapidamente e prevenir danos irreversíveis.

Como é tratado?

O tratamento da Poliangeíte Microscópica tem como objetivo controlar a inflamação, minimizar danos às áreas afetadas e prevenir recaídas. Ele é geralmente dividido em duas fases:

1. Indução da remissão

  • Medicamentos imunossupressores, como ciclofosfamida ou rituximabe, são usados para suprimir a resposta autoimune.
  • Corticoides, como prednisona ou metilprednisolona a, ajudam a reduzir a inflamação rapidamente.

2. Manutenção da remissão

  • Medicamentos como azatioprina ou metotrexato são usados para manter a doença sob controle a longo prazo.

Outras terapias podem ser necessárias dependendo do órgão envolvido, como diálise em casos graves de insuficiência renal. O tratamento também inclui o manejo de complicações e a prevenção de infecções, que podem ser agravadas pelos medicamentos imunossupressores.

A PAM pode ser fatal?

Sim, a Poliangeíte Microscópica é uma doença grave e pode ser fatal se não tratada. A inflamação dos vasos sanguíneos pode causar danos permanentes a órgãos vitais como os rins e os pulmões, levando a insuficiência renal, hemorragias pulmonares ou outras complicações fatais.

Existe cura?

Embora não haja uma cura definitiva, a PAM pode ser controlada com o tratamento adequado. Muitos pacientes entram em remissão, ou seja, um estado em que os sintomas desaparecem ou são significativamente reduzidos. No entanto, a doença pode reaparecer, e o acompanhamento médico regular é essencial para monitorar sinais de recaída.

Conclusão

A Poliangeíte Microscópica é uma doença rara, mas séria, que exige diagnóstico e tratamento precoces para evitar complicações graves.

Graças aos avanços na medicina, muitas pessoas com PAM conseguem levar uma vida normal, desde que sigam o tratamento e realizem acompanhamento regular.

Se você ou um ente querido apresentar sintomas suspeitos, procure um reumatologista para uma avaliação detalhada. A detecção precoce faz toda a diferença no prognóstico dessa condição.

Referências

Moreira, C. et al. Livro da SBR, 3ª Ed. Editora Manole, 2023

Hochberg MC. Rheumatology, 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2023.

Dra. Marcella Mello
Dra. Marcella Mello
Sou médica reumatologista, com residência médica pela Santa Casa de Belo Horizonte e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. Meu objetivo é trazer conteúdo relevante e preciso acerca da Reumatologia. Meu compromisso é com seu entendimento sobre o assunto de uma forma leve e clara. CRM: 71401-MG RQE Nº: 50241