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Dra. Marcella Mello Reumatologista
Marcella Mello - Doctoralia.com.br

Doença de Buerguer ou tromboangeíte obliterante: o que é?

O que é tromboangeíte obliterante?

A tromboangeíte obliterante, também conhecida como doença de Buerger, é uma condição rara e séria que afeta os vasos sanguíneos das extremidades do corpo, como mãos e pés.

Essa doença provoca inflamação e obstrução dos vasos, o que pode levar a uma redução significativa do fluxo sanguíneo para as áreas afetadas. Isso, por sua vez, causa dor, lesões nos tecidos e, em casos graves, pode resultar na necessidade de amputação.

A doença de Buerger é mais comumente encontrada em indivíduos jovens e de meia-idade que são fumantes, e sua incidência varia entre diferentes regiões do mundo.

Causas da doença de Buerger

A causa exata da tromboangeíte obliterante ainda não é completamente compreendida, mas há uma ligação clara com o uso de tabaco.

Fumar cigarros é o principal fator de risco para o desenvolvimento dessa condição, mas o uso de outros produtos de tabaco, como cigarros eletrônicos e tabaco de mascar, também pode desencadeá-la.

Acredita-se que as substâncias presentes no tabaco causem uma reação exagerada do sistema imunológico, levando à inflamação dos vasos sanguíneos.

O tabaco não apenas desencadeia a doença, mas também contribui para sua progressão. As toxinas presentes no cigarro afetam diretamente a saúde dos vasos sanguíneos, causando dano à camada interna dos vasos (endotélio) e promovendo inflamação crônica.

Isso leva à formação de coágulos e ao estreitamento dos vasos, agravando os sintomas e aumentando o risco de complicações graves, como gangrena.

De fato, pessoas que continuam a fumar após o diagnóstico têm maior probabilidade de desenvolver complicações e necessitar de intervenções cirúrgicas, como amputações.

Quais são os sintomas?

Os sintomas da tromboangeíte obliterante podem variar dependendo do grau de obstrução dos vasos sanguíneos e da extensão do dano aos tecidos. Os sinais mais comuns incluem:

  • Dor nas extremidades: uma das manifestações iniciais é a dor nas mãos ou pés, especialmente após o esforço físico. A dor pode ser intensa e persistente, mesmo em repouso.
  • Sensibilidade ao frio: muitas pessoas com a doença de Buerger relatam que as extremidades ficam muito sensíveis às temperaturas frias, apresentando mudanças de cor, como palidez ou tom azulado (cianose).
  • Feridas ou úlceras: feridas que demoram para cicatrizar, úlceras dolorosas ou infecções nas mãos e pés também podem surgir.
  • Claudicação intermitente: essa é a dor ou cansaço que ocorre nas pernas ou nos braços durante a caminhada ou uso, que melhora com o repouso.
  • Necrose de tecidos: em estágios mais graves, pode ocorrer a morte dos tecidos das extremidades (gangrena), o que pode necessitar de intervenção cirúrgica urgente.

Diagnóstico da tromboangeíte obliterante

O diagnóstico da doença de Buerger é baseado em uma combinação de histórico clínico, sintomas e exames complementares. Alguns dos principais passos no diagnóstico incluem:

  • Histórico do paciente: o médico perguntará sobre o uso de tabaco e os sintomas experimentados. A presença de dor nas extremidades, úlceras ou feridas de cicatrização lenta, além do histórico de tabagismo, são indícios importantes.
  • Exame físico: o médico avaliará sinais de má circulação nas mãos e pés, como alterações de cor, temperatura ou presença de lesões.
  • Exames de imagem: estudos como angiografia ou ultrassom Doppler podem ser realizados para visualizar os vasos sanguíneos e identificar áreas de obstrução ou estreitamento.
  • Exclusão de outras condições: o médico também deve descartar outras doenças que possam causar sintomas semelhantes, como arteriosclerose, trombose venosa profunda ou doenças autoimunes.

A doença de Buerger tem cura?

Infelizmente, a tromboangeíte obliterante ainda não tem cura. No entanto, é possível controlar a doença e prevenir a progressão dos sintomas.

O fator mais importante para interromper o avanço da doença é cessar completamente o uso de tabaco. Parar de fumar é a chave para evitar danos adicionais aos vasos sanguíneos e melhorar a qualidade de vida.

Tratamentos para tromboangeíte obliterante

Embora não haja cura, existem tratamentos que podem ajudar a gerenciar os sintomas e prevenir complicações:

  • Cessar o uso de tabaco: este é o passo mais crítico. Parar de fumar pode estabilizar a doença e evitar que ela progrida.
  • Medicamentos: alguns medicamentos podem ser prescritos para melhorar o fluxo sanguíneo ou reduzir a dor. Exemplos incluem vasodilatadores, que ajudam a ampliar os vasos sanguíneos, e medicamentos anticoagulantes, que evitam a formação de coágulos.
  • Terapia com oxigênio hiperbárico: em alguns casos, essa terapia pode ser utilizada para melhorar a oxigenação dos tecidos comprometidos.
  • Fisioterapia: programas de exercícios supervisionados podem melhorar a circulação nas áreas afetadas e ajudar a reduzir os sintomas.
  • Cirurgia: em situações graves, pode ser necessário realizar cirurgias para remover tecidos mortos ou revascularizar áreas comprometidas. Em casos extremos, onde a gangrena é severa, a amputação pode ser inevitável.
  • Tratamentos experimentais: alguns pacientes podem se beneficiar de terapias em estudo, como o uso de células-tronco ou outros tratamentos inovadores que visam regenerar os vasos sanguíneos.

Conclusão

A tromboangeíte obliterante é uma doença vascular debilitante que pode afetar severamente a qualidade de vida, especialmente para aqueles que não interrompem o uso de tabaco.

Embora ainda não exista uma cura, o diagnóstico precoce e a adesão a tratamentos podem ajudar a controlar a doença e prevenir complicações graves. Parar de fumar é o passo mais importante e eficaz na gestão da doença.

Se você ou alguém que conhece apresentar sintomas compatíveis com a doença de Buerger, procure um médico para uma avaliação detalhada. A conscientização e o cuidado são essenciais para melhorar a qualidade de vida e evitar complicações futuras.

Referências

Moreira, C. et al. Livro da SBR, 3ª Ed. Editora Manole, 2023

Hochberg MC. Rheumatology, 8th ed. Philadelphia: Elsevier; 2023.

Dra. Marcella Mello
Dra. Marcella Mello
Sou médica reumatologista, com residência médica pela Santa Casa de Belo Horizonte e Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. Meu objetivo é trazer conteúdo relevante e preciso acerca da Reumatologia. Meu compromisso é com seu entendimento sobre o assunto de uma forma leve e clara. CRM: 71401-MG RQE Nº: 50241